SOLILÓQUIO

Personagem quixotesca, grotesca e de triste figura. Caminhas pela Vida igualmente imerso em mundos e realidades tirados de contos de fadas.

Não segues sozinho, mas sentes-te eternamente só; cego; acorrentado ao negrume da tua alma. Não caminhas só, mas por às vezes por nem o veres, não mereces mais que a solidão e que te abandonem à tua sorte, remetendo-te ao Oblívio. A única companhia que sentes verdadeiramente é a desse espectro que te acompanha, anjo caído, personagem de raros, mas intensos lampejos. E nesses momentos ergue as asas e irradia uma luz diáfana que te ilumina. E consegues tornar-te um ser agradável, quase interessante.

Mas tu, vil criatura, depressa quebras o encanto e revelas a tua natureza: o engano e a decepção que és.

E cada acto teu vira-se contra ti com dupla intensidade.

Percorres caminhos tortuosos. Construíste um castelo sombrio cheio de claustros que é o teu refúgio e é a tua fortaleza e é a tua prisão. Aí te escondes, por detrás das suas muralhas, tantas vezes derrubadas, reconstruídas, e em alas que nunca mais conseguiste reerguer. Por vezes dou contigo a deambular pelas suas ruínas como um fantasma e ouço os teus lamentos. E ouço-te pedir misericórdia. Por vezes, sinto compaixão e ajudo-te. Outras vezes, porém, sou eu quem te dá o golpe final, enterrando mais fundo o punhal.

Oh, miserável alma penada! Vives entre Sombra e Luz, numa doença de alma interminável.

Condeno-te à pior das lutas com o pior dos teus inimigos, que sou eu. Eu, que sou o teu resquício de escrúpulo e sentimento de ti mesmo. Sou o teu maior tormento, e hei-de mortificar–te perpetuamente. Inflamo-te o sangue, tornando-o um rio ardente que te corre nas veias. Eu sou a raiva contida dentro de ti. Sou o grito que te rasga a alma e que fica amordaçado na garganta. Sou o murmúrio constante no teu ouvido. O demónio aprisionado no teu ser. O fel que te amarga o espírito e o veneno que não cospes.

Acompanhar-te-ei para sempre…

Talvez um dia nos reconciliemos.

Talvez um dia consigas proceder à transmutação do teu Ser.

Talvez um dia ambos nos consigamos libertar.

Escrito por: Sphynx

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