O Relambório

Blá bláblábláblá bláblábláblábláblá.

Blá bláblábláblábláblá blá blá blá blá blábláblábláblábláblá bláblá!

- Bláblábláblábláblá b lá b lá b lá?
- Bl á b lá bláblá bláblábláblábláblá bláblá blábláblá.

Bláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblá.
Blábláblábláblábláblá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá.
Bláblábláblábláblábláblábláblábláblá blábláblábláblábláblábláblábláblábláblá.
Blábláblábláblábláblábláblábláblábláblá bláblábláblábláblábláblábláblá.
Blábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblá.

Blábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblá.
Blábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblá.
Blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blá blábláblááááááááá.
Blá.
Blá blá blá blá blá bláblábláblábláblá blábláblábláblá blábláblábláblábláblá?!
Blábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblá.
Blá bláblábláblá bláblábláblábláblá bláblá blábláblá.

Blá.
Blá blá blá.
B lá Blá Blá.
Blá B lá Blá blá bláblá.

Blábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblá
blábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblá
Blá bláblábláblá bláblábláblábláblá bláblá blábláblábláblábláblábláblábláblá.
Blábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblá
blábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblá
blábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblá.

Blábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblábláblá. Blá!

Blá.

Blá.B…lá… B…lá… Blá!

Mãos dadas

Mão dada na mão dada.
Mão dada, mão oferecida.
Na mão dada, mão recebida.

Mãos dadas,
Dados nas mãos,
Jogam o Destino,
Em cada mão.

Dados lançados,
Dados recolhidos,
Destinos traçados,
Nas linhas da mão.

Mãos entrelaçadas,
Linhas cruzadas,
Nas palmas da mão.

Destinos unidos,
Caminhos partilhados,
Caminhos percorridos,

De mãos dadas.

Mão na mão.
"Escrever, faço-o muito diferentemente do que falo; e falar é, para mim, muito diferente de pensar; mas penso também de forma muito diferente de como deveria de facto pensar e, assim, até ao mais profundo da maior obscuridade."
(Kafka)

Metáforas, Alegorias, Paradoxos e Trocadilhos

Sentou-se à escrivaninha e abriu o velho alfarrábio. Ritual cumprido com o rigor matemático da inevitabilidade. Uma escribomania incurável.

Páginas manuscritas diariamente, compendiadas em trinta e quatro capítulos completos.
Registos do passado, relatos do presente e antevisões do futuro, agrupavam-se.

Pegou no aparo e esticou o braço na direcção do tinteiro. Inspirou e preparou-se para escrever.
Desta vez os seus gestos eram seguidos de perto. Os seus pensamentos, acompanhados enquanto os registava.

O livro estava aberto.

- Vá, anda, acompanha-me. – disse, convidando à valsa. Em três tempos.

Escreveu no topo da página: "Nem tudo é o que parece. Pode ser mais do que é, para lá da aparência."

Uma exortação expressa num paradoxo, um véu subliminar pousado delicadamente sobre a superfície.

Com gestos fluidos, deixava rastos de tinta sobre a folha de papel que a absorvia letra a letra, palavra a palavra, numa composição anagramática, alegórica.

“O RAMO.

Certo dia, dirigiu-se à margem de um rio que corria impetuoso na direcção de um mar desconhecido. Esta imagem afigurou-se-lhe assustadora mas, simultaneamente e, talvez por isso mesmo, tão atraente e irresistível. Um mistério que pedia para ser desvendado.

Pegou numa canoa e colocou-a à tona da água. Entrou. Sentou-se e pegou nos remos. A canoa agitava-se ao sabor desprendido da ondulação. O coração agitava-se ao sabor das ondas da emoção.

Soltou a amarra que o prendia umbilicalmente à segurança da margem e iniciou o seu percurso.
Rio curioso! Ora agitado. Ora calmo.

Também as suas margens eram belas e horríveis, tristes e alegres.

Rio, mar de sensações. Rio curioso."

Pousou o seu olhar no outro olhar, que agora fixava o seu. Suspensos um no outro, procurando reacções.

- Acompanhas-me? – Procurou

- Sim! Creio que sim – Resposta atirada na brevidade de um sorriso.

Prosseguiu.

“Na turbulência agitada, num momento incauto, a canoa virou.

Caiu na água.

Faltou o pé.

Na corrente que tudo arrasta, com uma fúria louca e imparável, que não se compadece, esbracejou e procurou agarrar-se para escapar aos abismos ignotos que o desconhecido encerra.

Eis que na margem do rio encontrou o ramo.

Agarrou-o com todas as forças.

O ramo, um dos mais importantes da árvore da vida. Tão poderoso. Mas que se parte tão facilmente. Estável e instável. Uma segurança insegura.

Resistindo, tudo suporta. rosa avalom.

Quebrando-se, devolve-nos ao turbilhão, ao arrastar violento. só a morte dói .

Contudo, não deixamos nunca de o procurar, nem de o segurar com toda a firmeza.

Uma dualidade paradoxal.”

Paradoxos. Sempre os paradoxos e a sua desconcertante anulação, na afirmação de si mesmos.
Afirmativos. Contraditórios.

Pousou o aparo. Soprou levemente sobre a tinta, petrificando-a sobre a pálida folha de papel.

O livro continuava aberto.

- Percebeste o que escrevi?

- Acho que sim. Segui a senda das tuas palavras, por caminhos de Luz e de Sombra. Falas em trocadilhos de forças em equilíbrio. É isso?

-Yin e Yang – gracejou – Sim. Mais ou menos isso.

- Interpretar o que está além. Ler para lá das letras.

- Tal e qual. Como quando se compra um perfume. Temos o frasco. Temos o seu cheiro. Mas para lá de ambos, temos a sua essência.

- A visibilidade e a invisibilidade.

Ambos ficaram presos no silêncio.

Mudos

Ocaso do dia que finda no acaso dos dias que seguem.

- (…) - Tentou dizer algo. Mas as palavras fugiam-lhe muitas vezes quando perdiam o suporte escrito.

Talvez porque fosse mais visível na sua invisibilidade e dissesse mais naquilo que não diz.

E novo paradoxo: o dito ou o não dito? Aquilo de que se fala ou aquilo de que se cala?

Sem Título (Mas com Ternura)

Sigo o caminho indicado por três sinais próximos, redondos, que me levam até ao final de um olhar. Intenso, quando submerso naquilo que não consegue dizer por palavras. Semicerrado, quando a luz inesperada o surpreende.

Gosta de enigmas, de os propor e de os desvendar.
Gosta de apostar, de ganhar e de perder.
Gosta de livros, de os ler e de os cheirar.
Gosta das quimeras grandes e das quimeras pequenas.
Gosta de tudo e gosta de nada.
Gosta.
Genuinamente.

Mais acima, um arquear da sobrancelha esquerda, em jeito de intriga internacional, como diria o Fermín, a adivinhar mensagens encriptadas. A direita move-se a espaços, quando o desafio não era esperado. Um momento suspenso, a análise da situação, um remexer de nariz, e a resposta imprevisível. Irónica. Brincalhona.

Gosta de versos.
Dos mais romanescos aos mais pós-modernos, onde as minúsculas e as MAIÚSCULAS
se
on
c em
torc
para ganhar um espaço no papel.
Mas duvida que Verão rime com Andaluzia…


Desço. No braço direito, o aviso inequívoco: material radioactivo. Tarde demais! Quando o descubro já sabia da inevitabilidade. Contaminada irremediavelmente num campo de trigo. Os dentes-de-leão rodopiam no ar e cheira a fim de tarde de um qualquer mês de Setembro.

Sabe contar histórias.
Faz do mais pequeno acontecimento do dia

uma iguaria exótica.
Mestre na arte de misturar especiarias.
A banalidade adquire sabor.
Veste o avental e a vida acontece.
Conta-a como se fosse a última vez.
Cala-se como se fosse a primeira.


Volto a subir. Olhos nos olhos e faço-lhe cócegas. O riso transborda para dentro de si e agita-se como se no momento a seguir se desfizesse num jogo de lego, espalhando as peças sem ruído. Ri e chora em silêncio…

Chega em pezinhos de lã.
Instala-se com os ténis calçados,
os atacadores em nó de cabeça-de-cotovia.
Quando parte deixa-nos as pantufas…

Vestimos o manto da invisibilidade e sentamo-nos a jogar xadrez. As peças movem-se, sem pressa, na modorra contida de quem não quer chegar ao fim. Adiamos o xeque-mate e movemos os peões em labirintos de faunos. Trocamos a torre com o rei, num roque mais ou menos alternativo. A rainha desloca-se no tabuleiro, sem nunca sair do quadrado. Sublevamos o bispo e os cavalos saltam num galope gracioso. O Rei tomba. Xeque-mate! Jogamos outra partida?

De manhã,
o nó feito e desfeito.
À noite,
o entrelaçar do afecto.
Cativante.
Bonito.
Surpreendente.
Em todas as horas do dia.



Escrito por: MG