Sigo o caminho indicado por três sinais próximos, redondos, que me levam até ao final de um olhar. Intenso, quando submerso naquilo que não consegue dizer por palavras. Semicerrado, quando a luz inesperada o surpreende.
Gosta de enigmas, de os propor e de os desvendar.
Gosta de apostar, de ganhar e de perder.
Gosta de livros, de os ler e de os cheirar.
Gosta das quimeras grandes e das quimeras pequenas.
Gosta de tudo e gosta de nada.
Gosta.
Genuinamente.
Mais acima, um arquear da sobrancelha esquerda, em jeito de intriga internacional, como diria o Fermín, a adivinhar mensagens encriptadas. A direita move-se a espaços, quando o desafio não era esperado. Um momento suspenso, a análise da situação, um remexer de nariz, e a resposta imprevisível. Irónica. Brincalhona.
Gosta de versos.
Dos mais romanescos aos mais pós-modernos, onde as minúsculas e as MAIÚSCULAS
se
on
c em
torc
para ganhar um espaço no papel.
Mas duvida que Verão rime com Andaluzia…
Desço. No braço direito, o aviso inequívoco: material radioactivo. Tarde demais! Quando o descubro já sabia da inevitabilidade. Contaminada irremediavelmente num campo de trigo. Os dentes-de-leão rodopiam no ar e cheira a fim de tarde de um qualquer mês de Setembro.
Sabe contar histórias.
Faz do mais pequeno acontecimento do dia
uma iguaria exótica.
Mestre na arte de misturar especiarias.
A banalidade adquire sabor.
Veste o avental e a vida acontece.
Conta-a como se fosse a última vez.
Cala-se como se fosse a primeira.
Volto a subir. Olhos nos olhos e faço-lhe cócegas. O riso transborda para dentro de si e agita-se como se no momento a seguir se desfizesse num jogo de lego, espalhando as peças sem ruído. Ri e chora em silêncio…
Chega em pezinhos de lã.
Instala-se com os ténis calçados,
os atacadores em nó de cabeça-de-cotovia.
Quando parte deixa-nos as pantufas…
Vestimos o manto da invisibilidade e sentamo-nos a jogar xadrez. As peças movem-se, sem pressa, na modorra contida de quem não quer chegar ao fim. Adiamos o xeque-mate e movemos os peões em labirintos de faunos. Trocamos a torre com o rei, num roque mais ou menos alternativo. A rainha desloca-se no tabuleiro, sem nunca sair do quadrado. Sublevamos o bispo e os cavalos saltam num galope gracioso. O Rei tomba. Xeque-mate! Jogamos outra partida?
De manhã,
o nó feito e desfeito.
À noite,
o entrelaçar do afecto.
Cativante.
Bonito.
Surpreendente.
Em todas as horas do dia.
Escrito por: MG
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