Árvores no Caminho,
Quantos peregrinos vistes passar?
Quantos, sob as vossas copas se abrigaram?
Quantos, à vossa sombra repousaram?
Quantos, aos vossos troncos se apoiaram?
Quantos, dos vossos frutos se alimentaram?
Quantos, sorrisos ouvistes?
Quantos, lamentos escutastes?
Quantas, promessas testemunhastes?
Quantos, junto a vós se perderam?
Quantos, junto a vós se encontraram?
Árvores do Caminho,
Guardiãs de segredos e ambições,
De alegrias e tristezas,
De promessas e penitências,
Idas, presentes e vindouras
A tua mensagem, trouxe-ma o mar, envolta em espuma, no arrasto das ondas enchentes da maré.
Li-a e reli-a, sentado na areia da praia.
Falava de uma ilha perdida na imensidão salgada.
Dizia que era linda, essa ilha.
"Um oásis de serenidade, num mar de tranquilidade", escreveste.
E eu, sem nunca lá ter estado, nem sequer saber onde era, icei as velas do pensamento e naveguei até lá, entre as vagas da imaginação.
Encontrei-te na praia, à minha espera, acenando-me.
A Filosofia sem Iniciação não conduz a nada;
A Iniciação sem Filosofia conduz à estupidez.
Ibn Arabi
Alone in your thoughts 
That consume you through your life
They'll take you outwards
To the dark edge of time
(Dead Can Dance - I can see now)

Conversas suspensas no muro

Conversas suspensas no muro.

Diálogos, numa conversa inacabada.

Tantas coisas ditas nas entrelinhas do silêncio...

Palavras atiradas de um lado para o outro,
Saltando ao eixo sob aquela muralha
E, ainda que sendo de pedra e cimento, menos  intransponível do que a outra que se ergue,
Invisível,
Construída, destruída, reconstruída,
A cada palavra, a cada gesto, a cada olhar, a cada silêncio.

Avanços e recuos de conquista;
Tomadas de assalto e retiradas estratégicas.

Jogar às escondidas entre as ameias,
Mostrando e ocultando.

Balançando nas incertezas,
Suspensas no muro.





"Estou destinado a sucumbir ao desesperante quotidiano a que todos se vergam: comer, trabalhar, dormir"
Robert Wilson, in  O Cego de Sevilha
"Sou assim e estou condenado a sê-lo. Serei sempre quimérico, sombrio, tenebroso, bilioso. (...) Conservo-me rapaz, vivo o dia-a-dia, amo o movimento para me mexer, o ar para respirá-lo. Morrerei por morrer. E tudo acabará"

in, Humberto Eco, "O Cemitério de Praga"