Ultimamente tenho-me confrontado com algumas considerações entre margens. Norte... Sul...
Ora, achei que estava na hora de expressar algumas considerações que tenho vindo a compilar mentalmente.
Primeiro, temos um dirigente desportivo a declarar que a sul do Douro é Marrocos.
Depois, vem um ministro dizer que a sul do Tejo é um deserto.
Ora, aqui ficam duas declarações em tudo similares, sabiamente proferidas por quem se situa na margem norte de um rio e que, convenientemente, coloca à margem os que estão na outra, na do sul. Mais ou menos como os países do Norte e os países do Sul.
Eu, que toda a vida, nascido, criado e residente na Margem Sul, fiquei feliz que alguém, bem mais iluminado que eu, me elucidasse acerca das minhas origens. Fiquei feliz por descobrir que, era um Tuareg ou um Beduíno ou um Mouro. As dunas, as tendas e as caravanas com que sempre convivi adquiriram para mim um significado diferente. E afinal, Al-Madan é um nome árabe. Tudo fez sentido na minha vida!
Percebi, finalmente, porque os meus colegas de faculdade, residentes na margem norte do Tejo, tinham tanto medo de atravessar a ponte. Um deles, que até era oriundo do Fundão, mas que vivendo em Odivelas, chegou a insinuar que Almada e Seixal eram hortas! Pacientemente, tive de lhe explicar que na minha terra só nasciam cactos.
E por estas e por outras, ou por eles não terem galochas, lá ía eu para a margem norte fazer os trabalhos de grupo que nos eram exigidos e deslumbrar-me com a civilização da Amadora, Odivelas e Damaia.
Tempos mais tarde, trabalhei em Oeiras. Um ano e meio. No meu último dia de trabalho, fizemos um jantar de despedida. "Tu decides onde jantamos" - disseram-me. Ora, se durante um ano e meio tinha ido para a margem norte, ousei convidá-los por uma vez na vida, deslocarem-se à Margem Sul, mais concretamente, ao Seixal. Pânico!!!
"Ai, ai, Seixal?" "Onde é isso?" "O que levo vestido" "Como se vai para lá?"
Pacientemente, desenhei um croqui, acalmei os ânimos mais exaltados, expliquei que a roupa tinha de ser caqui e que não se preocupassem, que os habitantes da minha terra os tratariam por "bwana" e seriam amistosos. Enfim, como bom mouro que sou, enchi-me de "salamaleques" e lá os convenci para a experiência de uma vida que, afinal, nem foi assim tão má.
E pronto, durante anos pensei: Esta malta da margem norte é louca. Nós da margem sul não temos estas pancadas. E referia estes episódios em Setúbal, numa busca de compreensão e solidariedade sulista quando, subitamente, me dizem "Alto lá! Que nós somos da margem Norte!". Estarreci! Depois compreendi o porquê.
Efectivamente, porque diabo há-de um sadino considerar-se da margem sul, quando está plantado na margem norte do Sado? Têm toda a razão! Compreendi e concordei. Até aí, tudo bem.
Porém, em seguida vieram as semelhanças com as posições do norte do Tejo. "Vocês da Margem Sul são um deserto" "Vocês da Margem Sul isto, vocês da Margem Sul, aquilo"
Outra semelhança. Tirem um habitante do norte do Tejo ou do norte do Sado do seu círculo geográfico e... Pânico!
Digam a um deles, por exemplo, para ir a Paio Pires ou a Almada ou a Cacilhas.
Ou a um sadino para passar o "passadiço" que cruza o Tejo. E aí está uma Odisseia digna de Homero.
Obviamente censuro nenhum deles. Afinal não são um povo nómada como nós, perpetuamente de tenda às costas, em aventuras no dorso de um camelo. E que só conhecemos outros locais, porque temos de procurar a civilização ou os oásis, como lhes chamamos, para encontrar aquilo que não temos no meio do areal e das tempestades de areia.
No entanto, comecei a achar que afinal não somos o deserto, mas uma ilha entre margens e à margem não sei bem do quê. Não sei, porque nunca tive necessidade de me afirmar como sendo desta ou daquela margem. Gosto da minha margem, mas também sei apreciar as outras. Aliás, trabalhei em todas. Tenho amigos em todas. Nunca me deu para uma guerra da Secessão. Mas parece-me que estou no meio de uma. Se assim for, digam-me, que vou polir a cimitarra.
"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem" (Brecht)
Escrito por: Lourenço da Arábia
Estava a demorar o texto sobre o Complexo de Ilheu...
ResponderEliminarE muita coisa poderia dizer hoje... Mas guardo para amanha, assim que os sinais ortograficos voltarem das suas ferias... No deserto?
Como dizem os que vivem na sombra do passadiço: olho por olho, dente por dente! ;)
Por hoje, um esclarecimento apenas: as Margens Norte nao se medem pela mesma bitola... E quem e que tem um Rio Azul igual ao Meu? Que ate a sua Margem Sul resplandece? Portanto, nao sei se sera uma questao de margens, mas de rios. Tenho dito e continuarei...
E ja agora, de mais de mil receitas de bacalhau, nunca ouvi falar de Bacalhau a Margem Sul...
Estou em excelente posição para falar disto, ou se calhar, devia isentar-me desta querela porque sou um híbrido, e esses são sempre os primeiros a ir à vida... Passo a explicar: nasci e cresci na margem do Tejo, centro da cidade de Lisboa. Toda a minha família materna vive no Seixal, pelo que a margem sul do Tejo nunca foi nenhum mistério para mim. Vivo na margem norte do Sado há seis anos.
ResponderEliminarSendo assim, sinto-me uma cidadã, não do mundo, mas de todas as margens (sim, também já vivi uns tempos a sul do Sado).
Normalmente assumo a postura de defender a margem norte do Tejo porque sou a única presente nestas discussões em condições para o fazer. E porque gosto de discutir, claro.
Aliás, peço desculpa por não guerrear nesta querela mas a esta hora já só me apetece "peace and love".
Mas que Lisboa é LINDA e sem igual, quanto a isso não há dúvidas certo? ;)
Lição de Geografia - Ricardo Mira
ResponderEliminarFalar-se da “Margem Sul”
Está na ordem do dia
Por isso importa saber
Mais da nossa geografia
Nasce em Espanha o Rio Tejo,
Por banhar a capital
Tenham santa paciência
Não deve ser referência
Para todo o Portugal!
Minha cidade tem
O Rio Sado, Rio azul
Setúbal é margem norte
Nunca será margem sul!
O Freeport de Alcochete
É Lisboa, vejam só!
No deserto o aeroporto
Isso não, até dá dó!
Para os clubes de Lisboa
Já não chega a capital
Aqui já existe o Vitória
É tão rica a sua história
No desporto nacional
Minha cidade tem
O Rio Sado, Rio azul
Setúbal é margem norte
Nunca será margem sul!
Falta também ser Lisboa
A nossa Tróia Resort
Neste país de cultura
Impera a lei do mais forte
Pra terminar a lição
Amigos, chega de tretas
Nosso berço é como um hino
Já Bocage era Sadino
Não queremos ser lisboetas
Minha cidade tem
O Rio Sado, Rio azul
Setúbal é margem norte
Nunca será margem sul!
http://osalcorrazes.forumeiros.com/reportorio-original-f1/licao-de-geografia-t33.htm
Eu subscrevo a opinião da "cidadã do Mundo". Nem grega, nem ateniense. Eu próprio me considero um híbrido, mas que gosta da sua margem, ou melhor, da terra com quem tem afinidade. E ainda bem que gosto da minha terra. Mau seria não gostar. E por isso a defendo, sobretudo quando dela sou o representante nas discussões mais acaloradas ou geofundamentalistas.
ResponderEliminarPor mim, "Peace & Love" parece-me bem. Mas como referi, se necessário for, desembainhe-se a cimitarra.
Curiosos estes seres de ambas as margens do Tejo...
ResponderEliminarTodos peace and love, mas com a cimitarra no bolso...
Afinal não será um Complexo de Ilhéu, mas um Complexo de Tenho o Maior Rio Mas Não me Serve de Grande Coisa!!!
Apá! É que nem os golfinhos lá ficam...
Ouvi dizer que na Margem Sul existe um bolo que é o Setubalense...
ResponderEliminarNem bacalhau, nem pastelaria própria! Palavras para quê!?!?
Um grande Olé, com Duende, ao Município do Seixal!!! Arza!
ResponderEliminarUma grande professora de flamenco é de lá.A única Associação de Mulheres Ciganas mora lá. Um grande grupo de dança ARAQUERAR tem lá sede (embora, convenhamos, com artistas da Margem Norte). A baía é bonita. E come-se lá bem. Hospitalidade não lhes falta! Especialmente quando bailamos a rumba... Toma que toma!
:)
Chamam aquilo baía? Uma baciazita com água, é o que é...
ResponderEliminarRecordo que na Margem Norte temos UMA DAS MAIS BELAS BAÍAS DO MUNDO!!!!
Com golfinhos...
Caro(a)Margem Norte,
ResponderEliminarVejo que teima em gritar "Por Santiago e aos Mouros".
Ninguém nega as belezas de Labutes (ainda não sei o porque desta inversão que parece agradar tanto aos sadinos... são do avesso, é o que é...).
Nós, no meio da aridez desértica efectivamente não temos um manancial aquático de tal envergadura. Temos uma baía modesta, povoada por flamingos de quando em quando.
Estuário do Sado
ResponderEliminarÉ especialmente no Inverno que as aves aquáticas são numerosas no estuário do Sado, como é o caso da Marrequinha, Piadeira, Pato-real e Pato-colhereiro. Outras espécies também abundantes são o Cagarraz, o Merganso-de-poupa e o Corvo-marinho. Algumas limícolas são abundantes e ocorre no estuário uma população invernante de Pernilongo. Ainda nas aves aquáticas, é de destacar a presença de Carraceiro, Garça-branca-pequena, Cegonha-branca e Flamingo. A Petinha-ribeirinha, o Pisco-de-peito-azul, o Chapim-de-mascarilha e a Escrevedeira-dos-caniços são alguns dos passeriformes que invernam nesta área.
Deviam era meter os golfinhos e os flamingos todos num estadio e mata-los a todos que so' fazem porcaria e poluem o Sado. Tenho dito.
ResponderEliminarQuase concordava Sr. Carvalho. Mas os pobres bichos não têm culpa nenhuma.
ResponderEliminarSr. Otelo:
ResponderEliminarNem no PREC tratavam assim a bicheza...
Com tanta falta de sensibilidade, da Margem Norte não será!