
Tenho grande respeito por psicólogos.
Eu próprio, em tempos que já lá vão, pensei em seguir esta via académica/profissional…
Bom, acima de tudo académica. Porque no que respeita à parte profissional, à semelhança de tantas outras, já dependeria de uma multiplicidade de factores e imprevistos que por vezes nos afastam da sua plena aplicação.
Por isso impõe-se a distinção entre psicólogos e licenciados em Psicologia. Uma distinção que muitos não me perdoariam se eu aqui não a fizesse e eu não quero afrontar o brio profissional.
“Só vai par a Psicologia a malta que tem problemas pessoais para resolver”, ouvi dizer diversas vezes (e a concordar, atendendo a alguns casos que conheço). É claro que não é um pensamento muito reconfortante. Eu que pensava que só ía para Psicologia quem queria ajudar os outros…
Como de sábios e loucos todos temos a nossa quota-parte, talvez haja aqui algum fundo de verdade. Não sei. (Deixo essa reflexão para outros, mais habilitados a fazê-la do que eu).
Enfim, acabei por optar por outra via. Assim foi, porque assim calhou. (Não sou assim tão paranóico).
Pronto! Creio que neste momento tenha psicólogos e licenciados em Psicologia a esfregar as mãos e a começar a tirar uma série de ilações acerca de frustrações, recalcamentos e mais meia-dúzia de termos. Também não os vou contrariar. Interpretem como quiserem.
Para os psicólogos, tudo se afigura passível de interpretação e nessas interpretações dos sinais vislumbram o indivíduo como um todo maior que a soma das suas partes. Diz que é a Gestalt, a forma, a configuração, a estrutura.
Tudo bem. Até concordo. Tudo pode ser interpretado. Significado e significante. Ideia e a forma. Abstracto e concreto. Símbolo e signo…
Mas apesar do fascínio que possa sentir, há coisas que me deixam desconcertado. Muito mais perplexo e confuso do que se estivesse a olhar para uma série de pranchas cheias de borrões de tinta onde é suposto vermos algo, ou não. Seja como for, será sempre alvo de uma interpretação! O que é ou pode ser, diga-se, extremamente irritante!
Quantas vezes os sentimos a devassar-nos com o olhar, atentos ao pestanejar, aos gestos, às pausas... Sempre a procurar e a encontrar significados em tudo e mais alguma coisa.
Irritante, sobretudo quando não o solicitámos.
Nesse caso, Agostinho da Silva tem alguma razão “A psicologia é uma ciência pela qual tive sempre a maior das desconfianças porque sempre me pareceu uma detestável e condenável intervenção na vida alheia, uma quebra do que existe de mais sagrado, a intimidade espiritual de cada um”.
Bom, não serei assim tão radical. Excluo desta afirmação aqueles que recorrem à terapia ou que voluntariamente expõem a sua intimidade.
Mas não deixa de ser pertinente esta reflexão.
Talvez nela resida a distinção entre psicólogos e licenciados em Psicologia: o primeiro utiliza as ferramentas em proveito do Outro. O segundo, não necessariamente.
Imaginem a vossa casa. Convidam alguém a entrar e pedem-lhe que vos ajude a arrumá-la. Ele pega nas suas ferramentas e técnicas de trabalho, faz o que lhe pediram (ou tenta o melhor que pode e sabe), e sai porta fora.
Agora imaginem alguém que, usando ferramentas e técnicas semelhantes, entra na vossa casa mas apenas para procurar algo e sai, ou que a deixa ainda mais desarrumada e sai.
Como aqueles canalizadores que para arranjar os canos, rebentam com as paredes, mas depois não as voltam a colocar.
Bom, deve ser por isso que inventaram a ética.
Por isso, vós - Oh psis -, tendes tanto de fascinante como de assustador.
Dizia um amigo meu que “só precisa de a psicólogos quem não tem amigos”. Afinal, muitos problemas resolvem-se numa amena cavaqueira com um bom amigo. Pode ser igualmente eficaz e muito melhor para a auto-estima, porque o amigo ouve, aconselha e no final não apresenta a conta. Fá-lo porque gosta de nós e sai bem mais barato!
Mas continuo a gostar de vocês!
Por Psicólogo entende-se o “especialista em Psicologia que é particularmente dotado de perspicácia psicológica, isto é, que antevê e compreende rapidamente os sentimentos e os pensamentos dos outros” (in Dicionário de Língua Portuguesa 2010 da Porto Editora). Seguindo esta perspectiva, todas as pessoas deveriam (e na verdade muitos são, um pouco) Psicólogos... Como diz um amigo meu, Psicólogo é a última pessoa com quem se fala antes de começarmos a falar sozinhos... E eu que cada vez mais falo sozinho :) Abraço ao El B
ResponderEliminar