A Ceifeira

Caminhava, com a calma compassada nos passos furtivos.

À sua frente estendia-se a vastidão do campo semeado. Olhou-o com a complacência compadecida da inevitabilidade.

Aproximou-se devagarinho. Invisível. A atmosfera opaca abafava o som dos seus passos.

O vento suspenso. O ar irrespirável.

Uma atmosfera morta na serenidade densa que antecede a tormenta.

Subitamente, anuncia a sua chegada, irrompendo com a fúria da tempestade e num gesto súbito, num único gesto, com uma brevidade fria e metálica, suspende aquele momento pela Eternidade.

Num único roçar de foice, rápido e mortal, sega sonhos de plantio.

Demasiado rápido para que fosse percebido.

Demasiado letal para lhe sobreviver.

Silêncio.

A Ceifeira afasta-se com a calma compassada nos passos. Caminha lenta e invisível.

Atrás de si, a vastidão despojada jaz em pousio.

Uma brisa desperta, aturdida, e interrompe aquele estupor.

Uma semente perdida rodopia no ar.

1 comentário:

  1. Uma bela metáfora sobre a Morte. Ou sobre a Vida, se lhe quisermos ler o avesso...

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