Zero

Segurando um punhado de memórias nas mãos vazias,

Olhas o relógio.

Contagem decrescente para a Hora Zero.

9

Curiosas, as contagens decrescentes: Compassadas. Ritmadas.

Numeração inversa, rumo a uma zona fronteiriça do Tempo,

Assinala a aproximação de um fim ou antecede um início. Ou, simplesmente, funde num único suspiro o limiar entre ambos os momentos.

Momentos que não são se excluem ou anulam necessariamente, formando um todo contínuo. Uma roda em constante movimento.

8

A Vida, também ela, uma contagem decrescente, se assim a quisermos entender, repleta de outras contagens: crescentes e decrescentes…

Espirais que convergem e divergem a partir de um mesmo centro.

Centro: ponto na imensidão. Ponto de partida. Ponto de chegada. Ponto de referência.

Limiar entre o Ontem e o Amanhã, entre o Passado e o Futuro, suspensos num breve segundo de Presente.

7

Olhas em redor:

Uma labareda que se extingue entre brasas que escorregam lentamente num tempo contado,

Renasce. Bastando um sopro, para que se erga uma língua de fogo que te aquece com as suas palavras. Uma lufada suficiente para que possa emergir na sua pira, emanando ondas de calor.

Uma ampulheta que só recomeça a contagem quando voltada, girando sobre o seu eixo.

6

Papéis dispersos, como folhas caídas das árvores, arrancadas pelo vento de Outono.

Palavras sublinhadas; palavras anotadas e outras tantas para um dia, que nunca chegou, porque adiado,

Ficaram perdidas num memorando esquecido.

5

Novos desafios. Outras contagens.

Afiguram-se apetecíveis e irresistíveis.

E um esgar de escárnio, trocista, de quem goza com a Sorte, traça-te o rosto.

Situas os zeros à esquerda e avanças.

4

Deténs-te no centro.

No que te resta de Presente.

O breve momento, que levas a inspirar e encher de ar os pulmões, encerra toda a essência do que foi e do que virá a ser.

(Ah! Instante fátuo!)

E nessa brevidade de tempo, há tempo suficiente para modificar tudo!

Num volte-face súbito, as reviravoltas do Destino trocam-te as voltas e fazem-te rodopiar no sentido dos ponteiros do relógio.

Contagem a zeros!

3

Precipita-se a Hora Zero,

Elo entre o que foi e o que há-de ser.

E podes pensar no que poderia ter sido e que não chegará a ser,

Entre o que não foi e que há-de ser,

O que não foi, nem será.

O que foi e não voltará a ser.

O que foi e será.

2

Seja lá o que tenha sido. Seja lá o que venha a ser,

Oscilando na modorrenta indiferença hipnótica do pêndulo.

Esboças um sorriso. Um esquisso que desenhas na face do futuro que desejas, na antecâmara do desejo e da incerteza.

1

Olhas o relógio:

Hora…

Zero!

4 comentários:

  1. Ora, assim é que é! Um texto em condições! Com frases de díficil compreensão e tudo! Puro intelectualismo. Ah sabe bem retornar à tasca ;-)

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  2. Pois...

    Mas intelectualismo não rima com bagaço.

    Já consultou a Carta dos "cocktails coquettes"?

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  3. Ah ah! Bagaço pode não rimar com intelectualismo mas, se formos a ver, também não rima com nada. Bom, mas essa da carta dos cocktails coquettes... tenho curiosidade em consultar. Mas, se nada me agradar, quero um bagaço!

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  4. Eu também já sentia a falta do texto. Os números já se me embaralhavam todos (deve ser do bagaço)!!

    Vai um mojito, ou também não rima?

    ;)

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