Diz-me.
Alguma vez te puseste a pensar, num determinado momento, como ali chegaste? Àquele preciso instante?
Eu explico.
Imagina-te a conversar com alguém que acabaste de conhecer. Ou dando por ti num local que, até então, era para ti um cenário inimaginável. Ou, simplesmente, a tomar um café.
Nesse momento, pára!
Pára e pensa toda a toda a tua vida até esse instante. Em todo o teu percurso, escolhas, decisões, acasos ou não. Como se toda a tua vida confluísse para esse exacto momento, até àquela fracção de segundo que te fez suspender o tempo e o espaço. Como se tivesse sido esse o propósito de teres perdido aquele autocarro longínquo. Daquele ano escolar que repetiste. De teres decidido faltar àquela aula para estar com os amigos. Daquela festa a que decidiste ir ou faltar. Daquele telefonema que atendeste. Daquela zanga que tiveste. Dos serões que passaste. De um beijo perdido algures. Enfim...
Recordas todas as acções que fizeste ou que deixaste por fazer. O que disseste e o que deixaste por dizer.
Subitamente, dás contigo imerso em pensamentos, a recuar a tantos momentos e a procurar, em cada um deles, o sentido da tua vida.
Pessoas que conheceste pelo caminho. Umas, tornaram-se amigos. Outras desejavas nem as ter conhecido. Outras, ainda, nem sequer te deixaram a memória das feições ou do nome, mas algum papel também devem ter desempenhado na tua vida, para que agora as recordes.
E o teu semblante carrega-se. E o teu semblante alivia-se num sorriso. E o teu olhar torna-se líquido na emoção da alegria e da tristeza, recordando-te a dualidade.
Tudo aquilo que foste e que és e que te conduziu àquele momento inicial.
Talvez o lamentes ou não. Talvez te carregue o semblante, ou não.
Nem imaginas a quantidade de vezes que faço esse exercício. Às vezes é maravilhoso, outras assustador...
ResponderEliminarArrasto-me na imensidão dos dias... numa luta intrépida por sobreviver aos fantasmas
ResponderEliminarque persistem em atormentar-me a alma...
"E dias há
Que na alma me têm posto
Um não sei quê
Que nasce não sei de onde
Vem não sei como
E dói não sei porquê"
(Luís Vaz de Camões)